quarta-feira, julho 27, 2011

Cabeça de Porco

O Cabeça de Porco era um famoso e vasto cortiço no centro do Rio de Janeiro, perto de onde está, hoje, o túnel João Ricardo.

Á sua entrada, existia um grande portal em arcada encimado por uma cabeça de porco. Arcos, com cabeças de animais em gesso, eram comuns à época, em quintas e chácaras.

As histórias que cercam este cortiço são contraditórias. Algumas passaram a lendas urbanas, como a que dizem ter sido habitado por 4000 pessoas. Mas por volta de 1800 era, talvez, o maior cortiço da cidade. Um verdadeiro labirinto arquitetônico que se estendia da Rua Barão de São Felix até a pedreira dos Cajueiros, no Morro da Providência. Dizem que em seu interior “havia grande número de cocheiras com animais e carroças, galinheiros e até um armazém”, segundo uma reportagem publicada em 1926.

Era voz corrente que o proprietário do “Cabeça de Porco” seria o conde d’Eu, genro de D. Pedro II; entretanto, documentos indicam a existência de vários proprietários desde a primeira metade do Séc.XIX. Alguns permanecem nas redondezas como nomes de logradouros públicos, como é o caso da travessa de D.Felicidade e da ladeira do Faria.

Em 1891, o município assinava contrato com o engenheiro Carlos Sampaio, que se propunha a abrir um túnel e prolongar as ruas até sua entrada.

Em 26 de janeiro de 1893, o Prefeito Barata Ribeiro (o mesmo que dá nome à movimentada rua de Copacabana) baixou um decreto que permitia à Prefeitura dar combate aos cortiços da cidade. Neste mesmo dia, começou a demolição do Cabeça de Porco, executada pelo próprio Prefeito, secundado de um verdadeiro exército de empregados da Prefeitura, e mais bombeiros, funcionários da Higiene Pública, o chefe de polícia em pessoa, policiais, sanitaristas e engenheiros.

Ângelo Agostini, em reportagem na Revista Ilustrada, assim se refere à demolição: “Quem suporia que uma barata fosse capaz de devorar uma cabeça de porco em menos de 48 horas? Pois devorou-a alegremente, com ossos, pele e carne, sem deixar vestígios. E só assim a secular cabeça, que derrubou ministérios, fez as delícias do Conde d’Eu e as glórias da respeitável D.Felicidade Perpétua de Jesus, deixou de ser, sob o domínio impiedoso de uma barata...” O desenho abaixo ilustrava o texto.

Mal havia desaparecido o famoso cortiço, e os jornais já noticiavam a construção do túnel, que só seria concluída em 1922, quando era Prefeito o próprio Carlos Sampaio.

O Cabeça de Porco foi consagrado como uma coleção de vícios e defeitos de uma moradia e, como tal, incorporou-se à nossa linguagem como um sinônimo de habitação coletiva insalubre e de má qualidade.


quarta-feira, julho 20, 2011

Sociedades Carnavalescas Cariocas

A partir do séc. XIX, começaram a se formar, no Rio de Janeiro, as chamadas Sociedades Carnavalescas, que também eram designadas de Grandes Sociedades, Clubes Carnavalescos, ou apenas Sociedades. Essas agremiações promoveram durante muito tempo os mais importantes eventos carnavalescos no Rio de Janeiro.

No final da década de 1830, quando se começou a copiar o carnaval feito em Paris, rejeitando o chamado “entrudo” que era constituído de brincadeiras rudes e de mau gosto, o Rio começou a copiar os Bals Masqués franceses. A elite desfilava pelas ruas da cidade ao se deslocar das sedes das Sociedades aos locais onde se realizavam os bailes. E os próprios desfiles acabaram se transformando no que passaria a ser chamado de corso. Quem podia desfrutar de uma carruagem, e depois, de automóveis, passou a “fazer o corso”, que no início do séc. XX, consistia em desfilar não só pela Avenida Rio Branco, do obelisco à Praça Mauá e, de lá, no sentido oposto até o ponto inicial, como também pela Avenida Beira-Mar. Das viaturas, pessoas lançavam serpentinas e confetes nos outros carros, bricadeira bem mais simpática que o grosseiro entrudo que se vê na ilustração de Debret.

As fotografias mostram imagens de desfiles na Av. Rio Branco, e na Av. Beira Mar.



quarta-feira, julho 13, 2011

A Piedade de D.Pedro II

"Revista da Semana", do Rio de Janeiro, número especial, de 28 de novembro de 1925.

Quatro dias após a proclamação da República, a legislação brasileira recebia o seguinte decreto:

"Considerando que o senhor D. Pedro II pensionava, de seu bolso, a necessitados e enfermos, viúvas e órfãos, para muitos dos quais esse subsídio se tornava o único meio de subsistência e educação;

Considerando que seria crueldade envolver na queda da monarquia o infortúnio de tantos desvalidos;

Considerando a inconveniência de amargurar com esses sofrimentos imerecidos a fundação da República;

Resolve o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil:

Artigo 1° - Os necessitados, enfermos, viúvas e órfãos, pensionados pelo Imperador deposto continuarão a perceber o mesmo subsídio, enquanto durar a respeito de cada um a indigência, a moléstia, a viuvez ou a menoridade em que hoje se acharem.

Artigo 2° - Para cumprimento dessa disposição se organizará, segundo a escrituração da ex-mordomia da casa imperial, uma lista discriminada quanto à situação de cada indivíduo ou à quota que lhe couber.

Artigo 3° - Revogam-se as disposições em contrário.

Sala das sessões do Governo Provisório, em 19 de novembro de 1889. - Manuel Deodoro da Fonseca - Aristides da Silveira Lobo - Rui Barbosa - Manuel Ferraz de Campos Sales - Quintino Bocaiúva - Benjamim Constant Botelho de Magalhães - Eduardo Wandenkolk".

Observação de um republicano:

- Não precisa o túmulo de Pedro II de epitáfios pomposos, em latim grandiloqüente. Basta que se grave esse decreto do Governo Provisório sobre a pedra mármore de Pedro, o Pobre.

quarta-feira, julho 06, 2011

O Embaixador e o Barão

Contam que, no início do século passado, fora enviado ao Rio de Janeiro, de um país de colonização hispânica, um diplomata para, aqui, desempenhar a tarefa de embaixador. Seu sobrenome era Porras y Porras.

O Embaixador, nas recepções diplomáticas, apresentava-se às senhoras presentes sempre com as mesmas palavras:

“- Porras y Porras, a sus órdenes”.

O Barão do Rio Branco, Ministro de Relações Exteriores do Brasil (de 1902 até 1912), a cada vez que o Embaixador se apresentava, virava-se para quem estava a seu lado e dizia, à meia-voz:

“_ O que me irrita é a insistência.”

A bem da verdade, esta história deve ser uma lenda urbana. Há relatos diferentes, em que ora o embaixador é paraguaio, ora trata-se de um panamenho que foi Presidente de seu país e não tinha o nome dobrado (Belisário Porras), ora ainda o fato teria ocorrido com Francisco Franco (1892-1975) Ditador de Espanha de 1938 até sua morte (aquele “Caudillo de España por la grácia de Diós”, como constava no verso das moedas de pesetas da época)